A germinação do feijão rasteiro

A feijão rasteiro que semeámos no dia 22 de maio já fura a terra. Quero isto dizer que demorou 9 dias para germinar. Valente. Quer isto também dizer que a técnica para semear feijão que o meu pai ensinou funciona muito bem.

germinação feijão

A germinação do manjericão

Na minha casa, gostamos muito de manjericão. Usamo-lo principalmente para um delicioso pesto mas também gostamos de espalhar umas folhinhas na comida ou mesmo em saladas. É uma planta bastante sensível e requer bastante água, e por isso convém mantê-la por perto, em vasos ensolarados. Ainda chegámos a plantar um pé na horta, mas rapidamente percebemos que os caracóis gostam tanto de manjericão como nós, e por isso devoraram as tenras folhas e os tenros caules até que não restou mais do que o próprio lugar onde foi plantado.
Mudei de estratégia e há cerca de 2 semanas resolvi semeá-lo numa pequena estufa, junto à janela. Timidamente, começa a germinar. Felizmente, não há caracóis por perto. Quando crescer, plantamo-lo em vasos maiores e vai ver a banda passar a partir da varanda.

basílico

Semear Chicória

A S. queria chicória.
A chicória era querida pela S.
Chicória terá a S.
S. Chicória terá.

Corridos todos os supermercados, todos os Akis e similares, assim como a Sograpa, nos Carvalhos, que tão bem nos fornece de sementes e plantinhas, a uma conclusão chegámos, e que martela ainda profundamente nas nossas entorpecidas consciências: não é fácil encontrar sementes de chicória. Foi um momento apodíctico. Muito honestamente, jamais julgaria tão depressa defrontar-me com questão existencial deste calibre. Nem todas as sementes estão à mão de semear, é tão simples quanto isso. Nem tudo o que julgamos garantido está, na verdade, garantido. Um longo caminho é, por vezes, necessário percorrer para que uma necessidade tão básica como possuir sementes de chicória possa ser satisfeita. Portanto, humanos que um dia acordareis a querer sementes de chicória, preparai-vos: longo é o caminho que vos levará à chicória. Apenas um truque vos salvará de tal provação e evitará que percorram um calvário invernoso, chuvoso e cinzento: criar amizade com alguém que trabalha numa loja de sementes. No nosso caso, já tínhamos um amigo que trabalha num desses santuário. Não o sabíamos até há pouco tempo, o que nos faz pensar que já há muito nos falta um inventário com as profissões, interesses e hobbies dos que nos são mais próximos, para que, em caso de provação, mutuamente nos ajudemos. Mas, caramba, catalogar amigos é, na escala que vai de "parvinho" a "insultuosamente estúpido", uma hecatombe que encontrará cama num hospital psiquiátrico qualquer. Vamos abster-nos então de o fazer, para que continuemos a enganar os outros quanto à nossa sanidade mental.
Depois de conseguirmos as nossas queridíssimas e amantíssimas sementes de chicória, imediatamente traçámos um plano ambicioso, arriscado e até certo ponto megalómano em termos  monetários para as semear condignamente: cortámos um garrafão de água de 5 litros do Pingo Doce ao meio, enchemos de terra e espalhámos sementes. Voilá, mini-estufa quase automática ao preço da água. Agora é esperar que a chicória cresça para que a possamos plantar em local definitivo, na horta. As saladinhas da S. vão ser um mimo.

chicória estufa
Estufa da chicória
sementes de chicória
Sementes de chicória



Sachar #2

sachar
v. tr.
1. Cavar com o sacho.
2. Mondar com o sacho.

Já o tinha dito, o alegado cebolal parece o campo da Batalha de Aljubarrota; pós-combate claro. (Na falta de uma padeira, temos uma batateira.) Como o cebolo era miudinho, cresceu muito mal, parecia desmaiado por mais que se regasse, e boa parte dele acabou por desaparecer misteriosamente - tal como o D. Sebastião numa outra batalha, a de Alcácer-Quibir. Aparecerá, talvez, um dia envolto em bruma. O cebolo. Ou não. Enfim, ontem falei da desgraça a que chegou com tanta erva, hoje apresento, tchan tchan, ou lá como isto é escrito, o resultado da monda. Tirando as ervas todas, pouco resta para ver. Tem por ali uma cebola ou outra. Uma tristeza.

cebolas

Ontem, na horta






Não trabalhei, à conta de uma dor de garganta malvada. Mas dediquei-me a registar o que nos rodeia quando lá estamos. Se olharmos com atenção podemos ver coisas surpreendentes.

Oficina propagação de plantas



É no Cantinho das Aromáticas, no Sábado, 1 de Junho, e está tudo explicadinho aqui.

Aromáticas Gaia

Sachar

Quando se trata de descrever o trabalho agrícola, poucos verbos são melhores do que o verbo "sachar". Nesta competição agro-gramatical apenas um ou outro lhe fará companhia, e "mondar" é um deles. Na verdade, sachar é a arte de mondar com o sacho. Monda é um nome genérico para ervas daninhas ou invasores, sendo por isso "mondar" a arte de trabalhar a monda. Enfim, deixemo-nos de complicações - sachar é mondar com um sacho, que é o mesmo que dizer que é tirar todas as ervas que estão a mais. Vem isto a propósito do cebolo. Faz por esta altura um mês que foi plantado. Diga-se que não cresceu por aí além. Tirando um ou outro pé mais pujante, o cebolal escasseia em cebolas. Soçobrava, porém, em ervas. De modo que, agarrado ao sacho, e com uma ajuda inicial da avó da S., lá foram desaparecendo as malditas. O resultado final, não sendo brilhante, ficou muito perto de "Bom". "Bom menos", vá. A horta agradece. 

Pouco cebolo, muita erva. Este era o bonito estado inicial do cebolal.

Hortas urbanas #2

Quando escasseia a terra, sobeja o engenho. Este pedaço ridículo de terra, pobre em nutrientes mas rico em vapores e químicos libertados pelos fumegantes comboios, plantou-se com vista privilegiada para a linha férrea. Um pedaço de terra anónima transformou-se numa minúscula e ainda assim caótica horta urbana. A nesga de horta, 1 metro de largura de terra, rebenta de alfaces, couves, uma ou outra abóbora e uma framboesa mais ao fundo.


Semear feijões

Os feijões gostam de pó, li por aí algures, e não querem ser regados até que a planta veja sol. Convém que a terra, na altura da sementeira, esteja relativamente seca, caso contrário o feijão poderá apodrecer sem sequer chegar a germinar. Passadas estas chuvas de Maio, pensámos que estariam reunidas as condições para lançar a semente na terra da horta. Seguindo as indicações entendidas do meu pai, que toda a vida os semeou, comecei por abrir um rego com a enxada, espalhei estrume e adubo, e voltei a cobrir de terra. Posteriormente, espetei a semente na terra com os dedos, cuidando que não entrassem em contacto directo com o adubo, porque poderiam queimar. Basta que entrem 1 ou 2 centímetros na terra, avisou o meu pai, e distem entre si cerca de 20 centímetros. Se tudo correr bem, daqui a 15 dias, veremos as primeiras plantinhas a espreitar. Resolvi semear duas sementes juntas de cada vez, para o caso de alguma delas falhar. Caso todas nasçam, terei de fazer o desbaste, deixando apenas uma em cada espaço, para que cresça forte e vigorosa. Por outro lado, e caso ambas as sementes falhem o nascimento, semearei de novo o feijão naquele sítio; o meu pai chama-lhe "rematar o feijão". Diz ele também que este ano as coisas não correram bem, que nasceu apenas metade do que semeou. Suspeito eu que terá algo que ver com a chuva que tem caído por estes dias, e que apodreceu a semente ainda na terra. E agora está feito, daqui a 15 dias espero começar a ver os primeiros pezinhos de feijão a furarem cheios de vontade. Não espero com este feijão recapitular a história do João e do seu pé de feijão, trepando por ele acima para chegar ao céu e roubar os ovos de ouro da galinha, até porque se trata de feijão rasteiro riscado, e portanto não trepará por aí além. Resolvemos escolher esta espécie por ser pouco trabalhosa - não precisará de ser estacada -, e além disso, garantiu-me o empregado do "grémio", como lhe chama a Sarita Catita, trata-se de uma espécie bastante versátil, pode comer-se enquanto vagem, enquanto feijão verde e enquanto feijão seco. Aguardemos, portanto. Aqui ficam algumas fotos do evento.

Feijão riscado rasteiro. Apenas o preço não é rasteiro: 1.60€ por 100 gramas de semente.

adubo, enxada, estrume
Tudo o que precisamos para semear feijão: terra seca, enxadas, adubo, estrume. E feijão, claro.

semear feijões
O rego dos feijões. Percebe-se o adubo (as bolinhas brancas) e o estrume. De seguida, cobre-se de terra e espetam-se as sementes.

Horta report

Mesmo sabendo que dificilmente conseguiremos dar saída a tanto legume, é tarefa hercúlea ir a um horto/ cantinho de aromáticas/ "supermercado de legumes" e não trazer to-das as variedades de couve e de pimentos, tomates e alfaces. Daí que ontem quis comprar beterraba. Bem, não foi só por isso. Faz montes de bem à saúde e eu tenho encontrado muitas receitas que estou disposta a experimentar. Eu sabia que tinha um bom motivo para gostar de pratos coloridos. Não falo da louça, essa quer-se branca e simples, falo da comida. Há que ver vermelhos, verdes, amarelos, roxos, laranjas, cada cor anuncia um benefício para a saúde. Também é por isto que há fruta da época. Isto da Natureza está muito bem feito. 
Anyway. 
Acrescentei coisas ao meu jardim de aromáticas, muitas delas gentilmente cedidas pela S. a saber: alfazema de dois tipos, segurelha, poejo, sálvia, orégão dourado, pimpinela e uma planta desconhecida, mas muito engraçada. A minha avó ligou incrédula à minha mãe, por me ver em tais lides. Por isso, para os mais descrentes, aqui fica a prova.

Garden report
Even though I know that hardly we will be able to eat all these vegetables, it is an herculean task going to a garden or a “vegetable supermarket" and not to bring tons of cabbage and peppers, tomatoes and lettuce plants. Hence, yesterday I wanted to buy beet. Well, that was not the only reason. It’s good for health and I have found many recipes that I'm willing to try. I knew I had a good reason to love colorful dishes. I speak not of the dishes themselves -  they are always simple white. I have to see red, green, yellow, purple, orange, each color announces a benefit to health. It is also why there are seasonal fruit. This Nature thing is wise.
Anyway.
I added things to my garden herbs, many of them kindly provided by S., namely two types of lavender, savory, pennyroyal, sage, golden oregano, pimpernel and an unknown plant, but very funny. My grandmother turned incredulously to my mother, to see me in such labors. Therefore, for the more sceptical  here is the proof.


Os imorredoiros amores de uma beterraba

Habituei-me a olhar para a beterraba com um certo desdém, como julgo acontecer à maior parte das pessoas de bem. Afinal, para quê uma beterraba? A que vem este tubérculo vermelho? É muito comum encontrá-la plantada nos campos, ladeando a cultura principal, as batatas ou as cebolas ou o milho, como que afirmando-se a primeira linha de defesa contra coelhos. A coisa, pensava eu na minha ignorância de quem sapiente se julga das coisas do mundo agrícola, seria tão má que nem os coelhos lhe pegariam. E vai daí que, enchendo-me de ganas para a reabilitação da beterraba - julgo até que esta ideia deveria tornar-se um desígnio nacional -, revolvi comprar 6 pezinhos da amiga vermelha e plantei-os. A ver vamos o que dirão coelhos e restante animalária peluda, incluindo caracóis e lesmas. Comê-las-ão? (Isto está bem escrito?) A dona S. diz que não lhe aprecia muito o sabor, que sabe a terra e não sei mais o quê. É capaz de ter razão, porque o epicentro comestível cresce enterrado, embora tal não seja razão suficiente para explicar o sabor porque o mesmo acontece às batatas e às cebolas. Talvez a encarnada sofra de males de amor e, de tão apaixonada pela terra, a queira levar para todo o lado, incluindo o prato deste vosso escrevinhador e do descuidado leitor. Cuidemos portanto da beterraba, deixemo-la apaixonada, transpirando as saudades da longínqua terra no nosso prato. 

Post-scriptum: prometo não tornar a escrever textos sobre amores imorredoiros, como este da beterraba.

A horta da Sarita Catita

É esta. E ainda trouxemos, para completar o cantinho das aromáticas, orégão, orégão dourado, poejo, pimpinela, salvia, alecrim, segurelha, manjerona, alfazema (duas espécies), e uma outra planta cinzenta cujo nome permanece um mistério.















O Cantinho das Aromáticas

Para os que não sabem, e mesmo para os que sabem mas ainda não prestaram a devida atenção, o Cantinho das Aromáticas é um dos espaços mais bucólicos e aromáticos de Vila Nova de Gaia e arredores. Em episódios anteriores, ficámos a saber que a S. planeia construir o seu próprio cantinho de aromáticas. De facto, já passou à prática. Protegido dos ventos por cedros, um quadradinho de terra escura abriga hortelã da D. Heliete, uma malagueta, manjericão, pimentos padron, que não são aromáticas, mas mais ou menos, coentros, orégãos e cebolinho. Penso já ter dado pormenores, portanto não vos vou maçar com a descrição exaustiva de como a S., poderosamente e com a força laboral de 100 trabalhadores agrícolas, olhou intensamente para o esforço miserável que este vosso empreendeu no plantio das ditas. "Não tenho galochas...", lamuriava-se, enquanto uma chuvinha miudinha como poeira pintava o seu tom desalegre. Deixemo-nos, todavia, de desvios que mais não fazem do que atrasar o andamento da história para explicar o que se passou. Depois de estacionarmos o carro, com o cemitério de Canidelo, julgo eu, pela esquerda, subimos pelo passeio e entrámos. Umas quantas estufas preenchem o espaço e, mais abaixo, num extenso espaço desaguando num charco imenso, uns patos distraídos, assim como passarada menos digna de referência - por ignorância deste vosso que vos escreve -, fazem aquilo que apenas os patos sabem fazer. Como fomos com a Bárbara, não tivemos sossego algum. A Bárbara resolveu andar, desandar, correr, saltar - enfim, tudo aquilo a que uma criança tem direito quando visita o Cantinho das Aromáticas ou outro sítio qualquer. Na loja, a infusão do dia era de manjericão e de perpétua roxa (ou seria de manjericão roxo e perpétua...?); eu gostei, a S. não lhe achou grande sabor, mas no fim acabou por concordar que não estava mal de todo. Enquanto isso, a pequena Bárbara fazia tudo o que uma criança tem direito a fazer quando entra num loja: pede, arruma, desarruma, vê, corre, salta... Enfim, nada que uns colos forçados não resolvessem. Enquanto isso, decidíamo-nos pelas aromáticas que melhor assentariam no cantinho. A decisão, algo hesitante, foi a seguinte:

Aipo - os avós da S. consumem muito, portanto foi uma decisão simples;
Malagueta grande - não sei muito bem porquê, a S. desenvolveu a certa altura da sua vida um certo fascínio por malaguetas, apesar de, constantemente, me lembrar o quanto lhe revoltam o delicado aparelho digestivo;
Limonete - porque tem um aroma maravilhoso.

As plantinhas repousam agora, esperando por terra mais funda, envasadas no peitoril da janela da lavandaria. Percebi entretanto que a malagueta trouxe penduras na viagens, julgo serem pulgões ou lá como se dizem estas pragas. Espero que a coisa não se espalhe, já li algures que o limonete, de tão sensível, lacrimeja como uma donzela assustada.

Limonete

Malagueta Grande e Aipo



Flores que quero ter

Ter um bocadinho de terreno, ainda que não seja nosso, é muito libertador. E as possibilidades são imensas. A ideia de ter na terra e poder colher os nossos alimentos preferidos é muito aliciante e agora ando sempre atenta ao que podemos ser nós a semear ou a plantar e depois a colher. Por exemplo, as ervas aromáticas são caras, mas podemos ter muitas delas ali, prontas a colher conforme as nossas necessidades. Para além do sabor que acrescentam e dos benefícios para a saúde.
Mas também podemos ter flores. A minha avó tem bastantes. Jarros, hortênsias, camélias, rosas, astromélias, cravíneas, palmas e outras que não sei identificar.
Eu tenho predilecção por aqueles tipos de flor que ficam bem secas, ad eternum, a povoar a casa. Por exemplo, as gipsófilas. Também adoro alfazemas. E as tulipas. Bem, as tulipas. Dizer que foram a única flor que compôs o meu bouquet de noiva dispensa explicações. E aposto que ainda há por aí muitas espécies por descobrir. Mas pelo menos estas três gostava de as ter num canto e poder ir apanhando cá para casa.
Portanto, numa primeira análise, esta horta tem trazido alguns benefícios: é uma actividade relaxante, aprendem-se umas coisas engraçadas e depois ainda podemos tirar proveito do nosso trabalho. Um que se veja, pelo menos assim esperamos.




Não são nenhuns Manolo Blahnik, mas a Dona S. vai gostar de saber

Horta fashion. Está certo que não são nenhuns Manolo Blahnik. Mas, a seu modo, cumprem na horta a mesma função que os míticos sapatos cumprem na selva de cimento: impedem que a bicharada se chegue aos pés. Está tudo aqui: http://narizadentro.blogspot.pt/2013/05/sapatos-adequados-para-horta.html

CSI Hortas

O caracol parvalhão de já falei aqui voltou a fazer das suas. Desta vez, enamorou-se de um pimenteiro padron (deve ser assim que se diz) e comeu-o até aos ossos. Este acto bárbaro só pode significar uma coisa: GUERRA! Isto é um recado para todos os caracóis que me estão a ler - sim, vocês, seus cobardes! -, não se metam com os meus pimenteiros padron! E nem com as alfaces, com os tomateiros ou com o senhor manjericão! Mas eu já estive a delinear um plano. De acordo com as minhas pesquisas, caracóis e lesmas são, logo a seguir à vizinha gorda que insiste em perguntar "Então, como estão os seus tomates?", o pesadelo de qualquer hortista convicto. Não é que seja - ainda - um hortista convicto, nada disso - até porque nenhum hortista se pode dizer convicto logo na terceira semana de actividade -, não admito todavia que um caracol ou uma lesma se passeiem impunemente e babando-se pela minha horta, pela horta que tanto custou a plantar e a cuidar. Não sendo possível lobrigar durante a noite, e com uma lanterna, a actividade ilícita dos gatunos, hei-de armadilhá-los de tal forma que não sabem o que os espera. Naturalmente, não poderei aqui explicar o que farei, até porque os caracóis e as lesmas podem estar a ler este blogue e assim irão atacar já preparados. Alguns ainda dirão: "Bom, mas basta que saibam que estão sujeitos a sevícias para que não voltem à tua horta, e assim também acabas por resolver o problema". Esquecem-se, todavia, seus estultos, da curiosidade secular de caracóis e lesmas; ou seja, como sabem que alguma coisa acontecerá, na certa tentarão roer o apetitoso do pimenteiro e aí é que os apanho. Chama-se a isto ciência forense, e ainda vou escrever uma série de televisão chamada "CSI Hortas".

O senhor da horta

Escondendo-se atrás do bidão da água, este senhor espreitava curioso a horta. Fotografei-o antes que as pétalas perdessem vigor.


Allium porrum


Do allium porrum diz-se ser francês, e pouco o dizem alho porro. Eu sou um deles. Para mim é alho francês, e fica por aí. Plantei uns quantos, pouco mais de uma dúzia, oferta expresso da Dona Heliete que os trouxe da Feira da Espinheira. Não lhe conheço, portanto, o pedigree. Envelheceram, como se faz ao vinho, em água, uns 3 dias, e apenas porque antes não os conseguimos plantar. Assistiram à morrinha que caiu mansinha no prédio da frente e a uma ou duas gaivotas que se instalaram pachorrentas na grua apontada ao céu. Por companhia, gozaram de umas folhinhas de hortelã e de dois loureiros. O Piripireiro, o tal que frutifica em malagueta, como diz a S., ou em piri-piri, como digo eu, observava-os muito atento num trono de vidro onde outrora se sentara uma grupo descabelado de azeitonas pretas descaroçadas. Antes de os lançar à terra, torci-lhes a ramada, de forma a cortar uma parte das folhas. Dizem que lhes faz bem, que os espevita, que os energiza. Ou então, estou eu a inventar. Mas foi o que fiz. Ainda o allium nada dará porque causa deste ritual inventado. Como prometido ontem, a foto aqui fica. Em primeiro plano, desalegres com o tempo, enfileiram as pencas, e em segundo plano, com um corte de cabelo novo, apresentam-se os pés de alho francês. Mais para trás, encobrem-se de vergonha pimenteiros e tomateiros - já deviam, afinal, ter crescido mais do que o que cresceram. Serve-lhes de desaumento da culpa um galhardo caracol que por ali circulava a alta velocidade, roendo folhas e caules e tudo o resto que verdejasse  nesga que fosse.


Eu e a minha penca

Hoje foram plantadas 42 pencas! 42! Eu repito: 42 pencas! É bem mais do que a quantidade de pencas que alguma vez comi na vida inteira. E a que propósito vem esta alarvidade de penca? Por 3 euros compra-se uma molhada das ditas e, voilá, vai-se a ver e a molhada transporta no útero quase incontáveis pencas. Para quem não sabe - incluindo eu próprio, mas para isso é que nos vale o santo Google -, a couve penca chama-se também couve portuguesa, dizem ter variedades e formas que não acaba e está espalhada pelas hortas do país. Quando espreitarem horta alheia têm uma gravíssima probabilidade de avistar uma penca - e não se inclui aqui a penca do próprio hortista. Para plantação, utilizámos o processo e os elementos que temos utilizado: terra, estrume e água. Quando digo utilizámos, faço-o embuído da utopia da partilha societal de tarefas; quero eu dizer, como a S. não levou galochas e chovia, quem sujou as botas de lama foi aqui o senhor. O senhor das pencas. Plantei ainda outras coisas. Mas depois digo. Não sei se repararem, mas com este post inaugurei toda uma nova prática: a hortaspotting. Digo eu, se calhar já existe. E vou aproveitar a ideia. Claro que sim. Depois eu mostro uma foto, sim? Das pencas, claro. As 42.

Cheguei para conquistar a horta

A brincar a brincar já ando aqui com um bichinho a roer, e não páro de pensar em coisas que quero ver na horta. Isto é um admirável mundo novo. Penso em cebolas, mas porque não cebola roxa ou chalotas? E tomate chucha, e em rama e cherry? E um canto de aromáticas com alecrim, aipo, manjericão, tomilho, salsa, hortelã, cebolinho, erva do caril, erva cidreira, orégãos, malaguetas, salva, e alfazema e aloe vera? E uns canteiros com morangos, e flores? Rosas, tulipas, hortênsias. Isto é um mundo, meus amigos. E se for como no primeiro dia e eu mais não vir do que duas ou três aranhitas, sou mulher para levar isto muito a sério. Esperem só para ver.

City girl gone cowgirl?

Pois que já cá faltava o meu testemunho de city girl assumidíssima e que jamais pensou em pegar numa enxada e plantar uns cebolos, mas que adorou a experiência. Mas não tenho parado de matutar nisto. É que eu ontem estava na aldeia do meu homem e enquanto ele foi ver a bola e a pequena dormia a sesta, eu quase que morria de tédio. Não se ouve nada por ali, só o vento nas árvores e uns passaritos. O que eu acho que gostei foi de plantar, cultivar. Mal posso esperar para ver as nossas coisas crescerem e comer das nossas alfaces, das nossas cebolas, das nossas beringelas, isto é, se nascer alguma coisa dali. Experiência positiva, portanto. O saldo, logo veremos.

Primeiras imagens da horta

Para que nada falte ao freguês deste blogue - eu e a minha mulher e um ou outro amigo -, eis a primeira foto da horta. Está tudo ao pormenor. Nada de gozar com os deslocamentos dos regos, que aconteceram por fortuna da incerteza e da insegurança da enxada, porque a coisa ficou muito bem composta. E poderão retirar daqui, digo eu, modelo para futuras hortas lunares, por exemplo. Afinal, quem não desejará  criar uma alface no meio de uma cratera ou ver crescer o pimento com vista para o planeta azul? Aqui, em Olival, terra de Carvalhos, está o referencial para empreitadas lunares, lunáticas e até lunares. Tenho dito.
(E porque nem todos conseguirão identificar aquele objecto correctamente, legendei também a mangueira...)

Horta. Dia um.

O estrume perfeito

3 ou 4 coisas são essenciais para começar a plantar ou a semear: terra, sementes ou plantas, ferramentas e água. Logo depois seguem os pequenos luxos, nomeadamente o estrume ou o adubo. Digo luxos porque não são elementos absolutamente indispensáveis para que se comece a colher da terra o fruto, mas para quem quer alguma rentabilidade convém que pense neles. Vamos ao  estrume. Ora bem, é um composto orgânico extremamente fértil, constituído por restos em decomposição e, digamo-lo assim, por fezes, merda, cocó. De animal, caramba! Tenham lá paciência, é merda animal, pronto. Mas não sejam muito púdicos em relação a isso. Não são poucos os que, tendo uma fossa em casa, fazem uso do seu próprio chichi e do seu próprio cocó para fertilizar a terra. Let´s face it: se usamos sem problemas cocó de gaivota ou de galinha, e mesmo de porco, para fertilizante, porque não usamos o nosso cocó ou o nosso chichi? Chichi ou xixi? Já nem sei. A resposta é simples e directa: porque não. Que porcaria. Mas se até a maltinha que pensa ir a Marte está maluquinha com a possibilidade de incorporar tecnologia para reciclar os próprios fluídos, porque haveremos nós, que estamos no planeta certo, onde há casas de banho e duches e chuveiros e banheiras e não sei mais o quê, estar cheios de problemas? Pronto, é uma questão ética, uma questão de moral, uma questão cultural, uma questão higiénica também. Mas, garanto-vos, há quem o faça. Ou puxa directamente o cocó e chichi (ou o xixi, raio da palavra...) para a terra através de um motor ou tem um depósito semelhante àqueles em que se transporta água em tempos de guerra para as populações sequiosas e despeja para a horta e para os campos. Portanto, é isto: estrume é merda. Há outras formas, porém, menos controversas de criar estrume. O primeiro é comprá-lo. Na verdade, aqui não se cria nada, faz-se uma transacção comercial, compra-se; existem muitas variedade, é só escolher, algum dos sacos são até já adubados. O último que comprei para a minha hora, um saco de 50 quilos, - na verdade foi o avô da Sara que o comprou - custou 3 euros e meio ou coisa que o valha. Como se vê não é uma fortuna. Se quiserem, e puderem, mantenham um galinheiro em casa, ganham nos ovos, na carne, e ainda usam o estrume que as aves produzem, apenas têm de ter o cuidado de ir alimentando a matéria orgânica, compondo o chão do galinheiro com erva seca ou mato. As galinhas tratam do resto. Trabalho? Ir tirando o estrume e colocando num monte para usar na terra quando chegar a altura. A forma mais chique e mais in de estrume chama-se compostagem, gera uma espécie de estrume pipi chamado composto. Reparem, nem sequer se chama estrume àquilo, é tão chique quanto isso. A casquinha da laranja e a folhinha de alface seguem para um recipiente grande, um bidão, por exemplo, com um furo em baixo, e deixa-se estar. Se encontrarem algumas minhocas lancem-nas para lá. Elas agradecem. Mas agora é melhor fechar este post antes que a minha mulher veja e isto dê merda.

O dia seguinte

2 de maio, dia de Primavera. Lá fora não cai chuva, lá fora uma brisa quente percorre a areia. Café da praia. As ondas salgadas encontram as tranquilas rochas fúnebres. Os cantos enchem-se de flores e bicharada. Mas vamos ao assunto. Muita coisa nos passa pela cabeça quando o pouco nos enche as ideias. Em alturas assim, lembramo-nos de começar um blogue, um blogue a sério, um blogue que perdurará no tempo e, provavelmente, que encontrará o seu destino final nas fronteiras do Universo, quando todos os seus textos  receberem o carimbo da imortalidade - espécie de património imaterial da humanidade, útil para que os extraterrestres e toda essa bicharada que polula os 4 ou 5 cantos do espaço inter e intra galáctico, como pulgas no pêlo de um Bobi sarnento, nos possa identificar a nós e aos nossos costumes. Afinal, haverá algo mais relevante para um bicho ET do que saber o registo e os movimento da enxada na terra numa aldeia chamada Olival, logo ali nos Carvalhos?  Já esgotei muitas hipóteses de blogues, muitos temas que ficaram escondidos por aí em blogues que nunca ninguém verá (felizmente). Não poderei garantir que este não terá o mesmo destino. Neste momento apenas escrevo porque a minha mulher ensaia um artigo para uma revista . E que digo eu? Voltemos ao assunto, que o mar, sendo paciente, poderá enervar-se com tamanho arredondamento de letra. Hoje é o dia seguinte. Ontem plantámos as nossas primeiras fiadas de plantinhas directamente na terra. Ocupamos um terreno dos avós da minha mulher que se dizia cansado de esperar que alguém o estrumasse. Menos cedo do que o desejável, entrámos em procissão, salvo seja, pela feira dos Carvalhos - sempre às quartas-feiras -, comprámos um cento de cebolo, 20 alfaces, brancas e roxas, pimentos, verdes e vermelhos, meloa, courgettes, e aquelas coisas roxas que me esquece sempre o nome. Beringelas! Raio das beringelas! Pelo caminho ainda vimos a D. Fátima com a aceleração costumeira, rodeada de clientes, e assistimos a um banho de gipsy fashion. A B. fazia birras e irrequietudes pelo caminho, ora queria ver, ora queria parar, ora queria chão, ora queria colo, ora queria, ora não queira. A minha linda B. Demos a primeira enxadada na terra já passava do meio-dia. O avô da minha mulher fez questão de nos mostrar como se fazia, até que se cansou, dois regos de cebolo depois, e se sentou na sombra. Sequência: abrir rego, estrumar, plantar, cobrir o rego. Finalmente, regar. Terminámos por volta das 16, a minha mulher foi uma valente, a menina cirandou por ali como uma borboleta contente. Brevemente, voltaremos lá para regar.
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