Os meus tristes nabos

Na minha horta, entre Agosto e Outubro, cresceram os mais tristes nabos que algum dia viram a luz a sul de Paris. Esta não é uma certeza absoluta, porém. Não cotejei com precisão microscópica todo e qualquer nabinho nado em terra mínimas, em hortas escondidas ou em campos distantes. Escrevi por aí algures um guião, mais competente do que o guião escrito por Paulo Portas para a reforma do Estado, e que, tal como este, é completamente inútil. Não vale a pena lê-lo; nada de bom acontecerá. Restam agora uns tristes e frios nabos.


O meu faval

Primeiro escrevi o título e só depois olhei para ele. Parece o título de uma composição da primária: "Gosto muito do meu faval. No meu faval tenho favas. Gosto muito de comer favas. São muito boas na sopa. A minha mãe diz que as favas fazem muito bem ao organismo. A minha mãe tem sempre razão. Eu não sei de que organismo ela fala, mas se ela diz é porque tem razão. As favas são verdes e gostam muito do sol e da água. Ainda não reguei as favas porque choveu. Agora ainda são muito pequenas, mas vão crescer grandes e fortes, porque a terra é de muito boa qualidade, como diz o meu pai. O meu pai também gosta de sopa de favas. Eu e a minha mãe também gostamos de favas." 

favas

1º Encontro Sensorial de Infusões

18 e 19 de Outubro. Sexta-feira e sábado. No Cantinho das Aromáticas.


Breve dissertação sobre a preferência dos caracóis, esses estupores, pelos meus nabos

O meu nabal transformou-se numa estância turística de caracóis. E não só estância turística. Tornou-se também a maternidade preferida das mamãs caracóis. E não só maternidade. O meu nabal transformou-se no restaurante preferido dos caracóis. Não sei o que diferencia estes nabos 60 dias dos outros, e sequer se serão todos assim, autênticos chamarizes para caracóis (quase os ouço gritar: "caracolinho, vem comer-me!"). Os factos. Nunca num espaço tão ridículo vi tantos caracóis. E de todos os tamanhos. Grandes, médios, pequenos, pequeninos, minúsculos: todos habitam o meu nabal.

nabos caracol

Hortubro

Outubro Horta

E os rabanetes viram a luz do dia

Cinco dias depois de serem semeados, os rabanetes dão um ar da sua graça. Não os sabia com um tempo de germinação tão curto, e sem receberem uma gotinha de água. São uns valentes. Veremos se continuam com tanta coragem agora que o frio chega. Eu acho que sim.



Aqui, brevemente, rabanetes

Semear rabanetes é uma brevidade constrangedora. Tão constrangedora que chegamos ao final e perguntamos: só isto? E depois instala-se um vazio na nossa consciência de agricultor. Sim, rabanetes é assim. Simples. Um quase nada. São muitos anos a observar, a aprender, a cultivar saberes, a pesquisar, a construir uma biblioteca imensa de memórias e gestos. Para quê? Para um breve instante. Numa certa perspectiva poética (se é que a poesia aqui entra) semear rabanetes aproxima-nos da dimensão mais profunda de nós próprios.


Nabos com botas

São inevitáveis com a chuva e mais tarde ou mais cedo aparecem-nos na vida. Falo de galochas, botas de borracha, chamem-lhe o que quiserem. Por esta altura, as terras da horta estão molhadas, e é impossível usar o mesmo calçado que se usou durante a Primavera e o Inverno. Portanto, as modas da horta são outras. Para já, ficamo-nos pelas galochas, mais lá para a frente é bem provável que cheguemos ao oleado e às luvas impermeáveis; e para ser absolutamente louco numa horta de Inverno, nunca se sabe se aquelas calças de plástico não entrarão no guarda-fatos agrícola, que é como quem diz num cantinho na prateleira da garagem dos avós da S. 

caracóis botas

KINFOLK



Mal bati com os olhos nesta revista pensei: "O Lopes vai adorar!"
Traz um grande conforto saber que há quem viva assim a vida, que sinta o mesmo prazer que nós sentimos quando reunimos família ou amigos ao redor de uma mesa e que ponha nessa mesa, através da decoração, todo o sentido de uma vida simples e equilibrada. 
Um dos nossos maiores sonhos, como casal e como família é um dia ter uma casa com um espaço livre onde possamos fazer isto mesmo: celebrar, reunir, muitas vezes. 
Mas a KINFOLK não se resume a isto. É uma ode às coisas belas, a um estilo de vida despretensioso e natural. Até eu, como city girl que não dispensa a proximidade do bulício, tenho esta aspiração. Mas também, quem disse que não poderia dar um jantar destes num terraço ajardinado de uma casa bem no meio da metrópole? Just kidding Lopes, just kidding.

Semear favas

Semear favas é muito simples e não requer grandes conhecimentos ou grande técnica. Deixo-vos um pequeno guia para o fazer sem complicações.

Fotografar hortaliças - os pimentos amarelos e a tesourinha de podar

As duas ou três pessoas que acompanham este blog (desde que o senhor Google resolveu banir as minhas páginas para a Sibéria da Internet...) terão certamente reparado nas pavorosas fotografias que colo por aqui. A razão de ser deste estendal de fotografias mal conseguidas tem um culpado, e um culpado apenas: este que vos escreve e a sua terrível e mítica (que exagero!) falta de jeito para fotografar. Nunca me dediquei à cousa, vá. E mesmo que me tivesse dedicado, por certo o resultado seria pouco mais talentoso. Vamos a factos: não nasci com uma câmara fotográfica na mão, e suspeito que não haveria uma qualquer imagem no quarto de nascituro onde este pequenino tivesse colocado os olhinhos e pensado: "ah, que maravilha de fotografia!". 

A minha horta desapareceu do Google

Assim de repente, e sem perceber porquê, o meu blog foi varrido do senhor Google, mas uma coisa impiedosa mesmo. A única coisa que aparece é a página de entrada. Enfim, deixei de ter visitas. Será que o senhor Google não gosta de hortas? Será que o senhor Google não encontra interesse em semear nabiças ou nas técnicas para regar a horta?  Será que o senhor Google não retira das lições sobre a plantação de couves qualquer benefício? Será que o senhor Google não encontra nas fotografias qualquer apelo estético? Enfim, senhor Google, deixai-me tratar da horta e vá à sua vidinha. Tonto. 

Congelar pimentos

Lavar, secar, retirar sementes, fatiar, fotografar e congelar. Será o saquinho mais colorido do congelador e dormirá bem encostado ao meio frango e à curgete. É por estas e por outras que gostaria de ter uma arca frigorífica daquelas à séria, suficientes para armazenar um boi ou um búfalo. Mas não: 3 gavetinhas, eis tudo. Tristezas de um pequeno apartamento. Agora que penso bem na dimensão das coisas, julgo que a horta terá mais área do que o meu apartamento. Ainda vou a medidas num destes dias, só para tirar as teimas. Se assim for, as couves ganhar-me-ão em espaço. É triste ser derrotado por uma couve, seja no que for. Adiante, que esta conversa de nada nos serve. Esta forma prática de guardar os pimentos foi sugerida pela mãe da S., e é um daqueles pequenos truques que convém guardar no fundo da memória para que deles possamos fazer uso logo que o pimento resolva mostrar-se de cores e de sabores. Congelar pimentos é muito simples. Eu repito: Lavar, secar, retirar sementes, fatiar, fotografar e congelar. A parte de fotografar é, obviamente, facultativa. Depois é só retirar para quando necessário. Para o o arroz, por exemplo. Há lá melhor arroz do que aquele que é aromatizado por pimentos? Nenhum. A S. é fã do pimento vermelho. Eu nunca, confesso, comi pimento branco ou amarelo. Quando o fizer fá-lo-ei com o entusiasmo e o nervosismo de uma debutante, embora vestido de forma bem menos elegante, onde pontificarão pantufos farfalhudos e uma T-shirt do Peter Cafe com uma baleia desenhada. Há lá forma melhor de comer arroz de pimentos? Cantés!



Os meus primeiros rabanetes. Ou não.

Comprei esta caixinha, embalagenzinha, vá, de sementes de rabanete no Aki. Diz que são biológicas, e por isso mesmo foram mais caras do que as outras. Andava eu todo lampeiro querendo semeá-las por alturas assim, Outubro, e quando vou a ver a prescrição, eis que aparece preto no branco que os rabanetes devem ser semeados até Setembro. Setembro foi ontem. Caramba. Vou cometer uma loucura absoluta e plantá-los no início deste mês, a ver no que dá. Se nada daqui acontecer, as conclusões tornam-se claras como as águas de Março, e doutros meses também: sementeiras fora de época. Sempre me contentarei sabendo que não foi pelos talentos medíocres do hortelão que os rabanetes não rebentaram. Se é que isso vale de alguma coisa. Enfim.

rabanetes sementes


Pimentos coloridos

Verdes, vermelhos, amarelos. E mais cores que houvesse. Demorou bastante tempo para que se pintassem, e só apareceram em plenitude quando o Outono bateu à porta. Aos pimentos da minha horta juntei um pimento branco, que é da horta da minha mãe. Não lhes fica mal.

pimentos coloridos


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