Visitantes da horta #3

Não há batatal sem escaravelho da batata. Esta é uma verdade pura e dura. Podem dar as voltas que quiseram, semear batatas onde quer que seja; é impossível escapar ao escaravelho. De onde virá este bicho? Aparentemente, esconde-se nos interstícios da terra e aparece quando lhe cheira a batatas. Outros nem se escondem e vêm, contentemente, a voar de outros batatais. Enfim, do fundo do chão, da ponta de uma nuvem, logo que lhe cheire a batata, este menino vermelho cedo se anuncia com uma fome voraz, e não havendo cuidados poucas folhas lhe escapam. Não tenho batatas na horta, mas à custa de umas quantas sementes que terão ficado na terra de culturas anteriores, as batatas lá ergueram os braços ao céu e com elas vieram os inevitáveis escaravelhos. Neste momento, cada batateira parece um jardim infantil onde os infantes, sob a forma de larva, roem ferozmente qualquer pedacinho de folha. Tenho memórias muito precoces destes bichos nos batatais que os meus pais semeavam, ali para os lados da Alfareira, em Coimbra. Lembro-me que eram, e ainda o serão por certo, o terror das batatas; primeiro sob a forma de uma larva vermelha e mais tarde sob a forma de escaravelho propriamente dito, alaranjado às riscas brancas. Lembro-me que sulfatar as batatas era absolutamente essencial para que as plantas lhes sobrevivessem. Era um combate sem quartéis. Há coisas que não mudam, e o escaravelho da batata continua por aí, a avivar memórias, a roer as folhas das batatas, alarvemente vermelhos como só eles conseguem ser.

Larva de escaravelho da batata sorrindo para a fotografia
Larva de escaravelho da batata. Enfim, de elegância não padece o bicho...

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