As flores da avó da S.

Se magicamente as dores lhe abandonassem o corpo, a avó da S. transformaria a sua quinta num infindável jardim colorido. As volumosas hortênsias acolheriam os visitantes, e os agapantos, brincalhões, cuidariam das crianças, brincando à apanhada e saltando à corda. Por certo, e se as dores lhe abandonassem o corpo pelo tempo suficiente, plantaria e semearia flores nas ruas e nas avenidas, e todas as casas floririam orquídeas e begónias nos beirais.

hidrângea

Pelos postes de eletricidade trepariam buganvílias de muitas cores e por entre as pedras da calçada brotariam margaridas, goivos e petúnias. Carro algum poderia circular sem que transportasse no tejadilho vaseiras com dálias e trombetas. De todos os bolsos de todos os homens espreitariam cravos, cravetas ou amores-perfeitas, e nunca faltariam rosas brancas, amarelas e vermelhas nos regaços das saias das mulheres, nem cabelo algum se pentearia sem uma camélia cor de fogo.
Mas como as dores não lhe abandonam o corpo, resta à avó da S. cultivar as flores e os ramos verdejantes com que enfeita as campas daquele que já morreram.


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