Nabos com botas

São inevitáveis com a chuva e mais tarde ou mais cedo aparecem-nos na vida. Falo de galochas, botas de borracha, chamem-lhe o que quiserem. Por esta altura, as terras da horta estão molhadas, e é impossível usar o mesmo calçado que se usou durante a Primavera e o Inverno. Portanto, as modas da horta são outras. Para já, ficamo-nos pelas galochas, mais lá para a frente é bem provável que cheguemos ao oleado e às luvas impermeáveis; e para ser absolutamente louco numa horta de Inverno, nunca se sabe se aquelas calças de plástico não entrarão no guarda-fatos agrícola, que é como quem diz num cantinho na prateleira da garagem dos avós da S. 

caracóis botas

Estas lindas que podem ser apreciados em toda a sua verde candura, foram compradas por 12 euros e 75 cêntimos, se a memória não me falha, e vão tornar-se imprescindíveis nos próximos tempos. Longe vão os tempos em que, para cavar a terra, calçava chinelos de dedo! Longe vão os tempos em que um bulício mais afoito levantava um bafo quente de poeira. Daqui para a frente, tudo é geada e chuva fria, água a cântaros e gelo quebradiço nas folhas de couve. Enfim, já estou a exagerar. Vem esta fotografia também com o propósito de mostrar a minha mais recente afición hortícola: os nabos. Os nabos são um sabor mais adulto, não é para meninos. Leva tempo a gostar-se. Leva tempo a apreciar-se. Depois, quando se vence a barreira, é rendemo-nos seu sabor. Onde melhor sopa do que uma sopa com uma cabeça de nabo? Onde? Onde um cozido à portuguesa sem o belo do nabo? Onde? Onde um nabal sem um batalhão de caracóis? Onde? Na verdade, batalhão, camaratas, quartel, quartel-general e o raio que o parta. Nunca vi tanto caracol concentrado num canteiro! Apre! Eu nem sei que onde vem tanto bicho, mas basta virar uma folha de nabo e lá está um malandro a rir-se na nossa cara. Já suspeitava, e cada vez tenho maior convicção nisto: os caracóis provocam desequilíbrios mentais aos hortelãos. O dia que hoje finda é o dia da saúde mental. Muito se tem falado que a população portuguesa é uma das mais doentes do mundo, que um terço dos portugueses está doente e não recebe qualquer tratamento, etc.; todavia, ninguém se lembra do hortelão e das perturbações mentais provocados por esse agente da insanidade, o caracol. Eu, por mim, chamo-lhe já caracolose e até elenco uma série de critérios desta doença:

1. Comportamento desorganizado, incluindo raiva incontrolável, perante a presença física de caracóis
2. Delírios com caracóis gigantes atacando uma horta
3. Falhanço em organizar um discurso coerente em relação aos caracóis
4. Alucinações persecutórias envolvendo caracóis

Caso dois destes sintomas se mantenham por mais de seis meses, é bem capaz de tratar-se de uma caracolose. Vá, ide tratar-vos ao psicólogo.

1 comentário:

  1. Ponto número 1: adoro as tuas galochas.
    Ponto número 2: adoro nabos... na sopa.
    Ponto número 3: Caracolose. Aahahahahahahahaha!

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