A assassinabilidade do pepino



Algo subtil há de assassino num pepino. Quem o planta, sabe. Começa discreto. Escorregadio. A folha larga, a flor a querer cair. Depois cresce. Sem aviso. No início, parece só um vegetal em progresso. Uma promessa verde. Mas há uma curva. Sempre há. Uma manhã, damos por ele preso ao arame, enrolado ao suporte com força, rijo, vibrante. O corte não o mata. Apenas o interrompe. Há outro, deitado na terra, retorcido sobre si. Corpo de vírgula. Peso a mais de um lado só. Um, mais pequeno, ainda com a flor no fim, ficou tenso. Parecia estar à espera de algo. E há aquele, escondido, que cresceu sem dar por ele. Inchou. Ficou pálido, áspero, inútil. Quem cultiva pepinos perde aos poucos a inocência. Não seguem guias. Não aceitam podas. Empurram as alfaces, sombreiam os feijoeiros. Crescem tortos. Têm pressa. Dois, três, seis frutos por haste. Um deles parece um cotovelo. Outro, uma ameaça.

Olho para eles ao fim da tarde. Há um ângulo, um brilho, uma insistência. Nem sempre estavam virados para ali.

É provável, se ainda não aconteceu, que venham a ser descritos na próxima edição do DSM. Delírio típico da esquizofrenia: crença persistente de que os pepinos estão a organizar alguma coisa.
Porque os malvados, caramba, desafiam a sanidade mental. 

#pepinos #horta #ospepinosãoumaameaça #nãomeinternem #danteserabomdacabeça #aculpaédospepinos #saúdementalepepinos
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...