As últimas favas

Chegou ao fim a colheita de favas deste ano. Serviram-me bem. Foram dois cantinhos que alegraram a vista da horta durante o inverno e explodiram em flores brancas e pretas na fugidas do sol. Como é seu destino, reinaram durante o mês de maio, mas junho já lhes é um mês estranho, longe dos seus hábitos. Para o ano há mais. De certeza.



Fruta Feia mais do que bonita




É feia mas nós gostamos da fruta assim. O NY Times pegou nela e transformou-a numa coisa bonita. É a Fruta Feia mais linda destas bandas. E não está à venda em supermercados.

As flores brancas e a falta que fazem alguns conhecimentos rudimentares de botânica - e nem falo de conhecimentos extraordinários, apenas os suficientes para nomear flores com propriedade e talvez usando aquele tom das pessoas que sabem o que dizem logo após tossicarem candidamente como quem acaba de se esforçar mentalmente para além do que ao humilde humano é permitido

Na quinta dos avós da Sara, onde este que vos escreve tenta cultivar aquilo que, com bastante condescendência, pode chamar-se horta, crescem muitas e diversas flores. Planta sim, planta não, damos de caras com flores ou com um caule que promete estoirar em flor. Mas as flores da avó da Sara têm sobretudo um valor fúnebre. Nascem para falecer na água morna das jarras do cemitério, nas campas dos falecidos. Todas as semanas, cortejos de flores se levantam da terra e percorrem o caminho dos lamentos. É encontrá-las ajoujadas do sol de Maio, olhando tristemente e em clemência para os granitos e os mármores quentes. A estas que vos trago - cujas imagens vos trago - não chegou ainda a vez, e por isso sorriem porque o dia está bonito e parou de chover. Trago-vos as brancas - porque as há de outras cores. Não lhes sei o nome. Sei que umas são rosas, outras sardinheiras e outra é um jarro. Para esta empreitada, o de nomear as flores, fazem-me falta alguns conhecimentos botânicos. Nada de conhecimentos extraordinários. Apenas os suficientes. Calculo que as flores gostassem. As pessoas gostam. E sempre é outro respeito.

As cebolas da tia Maria e aquela história de se apanharem cebolas no Minguante

Quem leu o título deste post já percebeu que estas cebolas não são minhas. Quem não leu o título deste post mas tem acompanhado este blog - duas ou três pessoas, já a contar comigo e com a Sara - já percebeu que jamais e em tempo algum aquelas cebolas poderiam ter sido criadas na minha horta. A explicação é simples: não sei o suficiente de agricultura para que as cebolas cresçam taludas desta maneira, seguindo as indicações ditadas pelas minhas mãos. Verdade seja dita, e para obviar ao discurso da desmestria: a minha experiência com o cultivo de cebolas limita-se aos 50 pés de cebola vermelha que plantei no ano passado. Este ano, e por motivos felizes, o tempo hortista escasseia, de modos que tive de cortar em trabalhos, e um desses trabalhos em que cortei foi no das cebolas. Nas cebolas e nas couves. Mas voltemos às cebolas. As da tia Maria. Estas cebolas que aparecem por aqui, nesta imagem, são plantadas e criadas no quintal da minha tia Maria; quer dizer, quem lhes tomou o trabalho foi o meu tio, ainda que lhes chame "cebolas da tia Maria" - algum engano devia ter o título. Dizia-me a tia Maria, em passeio pelo seu quintal, que estas tais cebolas taludas sempre foram muito remeladas, muito pequenas e feias, pareciam um torrão de nada, e de repente, depois de uma chuva mais generosa, saltaram da terra e ficaram bonitas como se pode ver. Ainda me ofereceu duas. Diz que está à espera do Minguante para as levantar do chão. Diz-me ela que é assim que se faz, embora não saiba explicar porquê. Tenho cá para mim que toda a gente que trabalha no campo sabe destas coisas da lua e esqueceu-lhes as razões. Devem ter morrido todas as pessoas que sabiam explicar os segredos. É provável. Diz-se que, apanhando as cebolas no Minguante, elas não espigam e aguentam mais tempo sem que se estraguem. Eu acredito nisso tudo. E mesmo que não corresponda a uma verdade cósmica qualquer, o ritual é muito bonito: apanhar cebolas no Minguante. Bonito. Parece-me muito bem. E consigo viver perfeitamente com isso. 

apanha da cebola


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...