Durante mais de 2 meses foi muito complicado fazer o que quer que fosse na horta. Em primeiro lugar porque as coisas modificaram-se cá em casa, e o chuvoso Fevereiro trouxe uma criança pequenina e rosadinha. Chama-se Teresa. Teresinha. Somos quatro, agora. Pai, Mãe, Bárbara e Teresinha. Em segundo lugar, e felizmente, Janeiro trouxe boas notícias profissionais. Desde o dia 21 consigo olhar pela janela virada a norte do meu gabinete e um pouco mais de sol, apesar da chuva, ilumina este dia e os que virão - será a Primavera? Em terceiro lugar, o mau tempo, a chuva, o frio, a lama, o vento, o mar bravio, o incómodo que é sair de casa, o incómodo da galochas, o incómodo... Portanto, a horta que foi deu lugar a um espaço onde plantas e ervas bravias crescem no lugar que devia ser de orgulhosas couves e tímidas ervilhas. Um desalento.
Neste sábado, e porque o tempo se fez amigo, ainda consegui fotografar os despojos que o Inverno largou. As pencas, muito alegradas pela inesperada visita, mostram-se de flores brancas; as galegas, grossas como embondeiros angolanos, armazenam água nas folhas; as ervilhas desenham pétalas roxas; as favas erguem-se contentemente, sabendo que maio será o mês delas; os alhos, ao fundo, esticam-se ao céu; as alfaces roxas continuam infantis e tão depressa não espevitarão; e todo um naipe de couves, lombarda, flor, coração, assusta-se com o frio. Mas o mais relevante, e que facilmente salta à vista, é a inacreditável proliferação de daninhas que veio do nada e tomou conta da horta. De onde terá vindo semente assim? Será que choveu sementes? Vieram com o vento? Não percebo coisa assim, tão rápida e repentina. Distraí-me 2 meses e qualquer coisa, e com justificações perfeitamente aceitáveis, e a horta já era! Para alegria minha, trouxe dois raminhos de grelos - de nabiça e de couve. É o bom que a terra tem, a sua generosidade; a sua enorme generosidade, mesmo para quem dela se distrai um pouco.